domingo, 2 de outubro de 2011

JESUS, O PROFETA

JESUS, O PROFETA

A natureza do ministério profético de Jesus é de profunda importância para qualquer pessoa com chamamento profético. Se quisermos dar continuidade ao que  Jesus começou a fazer e a ensinar (At.1:1-2), precisaremos compreender como realmente era o seu ministério. Só então poderemos penetrar no significado dele para nós hoje. Será primeiramente necessário percebermos a visão que Jesus tinha de si mesmo e da sua função, pois esta não era idêntica às opiniões que os outros tinham dele.
Por muito tempo tenho enfatizado a continuidade que existe entre o Velho e o Novo Testamentos, e entre os ministérios proféticos contidos nos dois. Não houve uma cessação repentina de profecia vetero-testamentária, seguida por um silêncio e finalmente o começo de uma forma totalmente distinta de profecia neo-testamentária. Isso fica evidente se partimos da compreensão da natureza de Deus como um Deus que fala. Ele nunca deixou de agir assim. O registro histórico não sustenta a opinião que a profecia em época alguma tenha morrido. Mesmo sem tal evidência, poderíamos basear nossa confiança na continuidade da profecia por ser isto um aspecto essencial da natureza por Ele revelada.
Não podemos, então, fazer uma divisão entre profecia do Velho e do Novo Testamento, mas sim rejeitar a obsessão dispensacionalista em destruir a continuidade, que é a característica singular de um Deus que é constante. Contudo, há uma certa distinção entre profecia do Velho e profecia do Novo Testamento. Há algo mais, algo novo, no Novo Testamento. Isso não nos deve surpreender, pois Jesus veio trazer aos homens algo superior àquilo que já tinha experimentado. Sustentamos a ênfase na continuidade entre o Velho e o Novo Testamento, mas neste estudo pretendemos dar atenção maior para a diferença entre a profecia antes de Jesus e o ministério profético que foi desvendado nele e que nos foi transmitido.
É evidente, através dos Evangelhos sinópticos, que Jesus era popularmente considerado como um profeta. Alguns achavam que era João Batista ressuscitado; freqüentemente era descrito como profeta, ou um deles (Mc.6:15; 8:28; Mt.16:14; Lc.7:16,39; 9:8,19). Jesus reconheceu esse conceito de si mesmo quando se referiu à rejeição de um profeta no seu próprio território (Mc.6:4;  Mt.13:57; Lc.13:33); mas não há indício de que ele endossava plenamente os conceitos que o povo tinha a seu respeito, em nenhuma dessas passagens. Ele foi saudado como profeta quando entrou em Jerusalém (Mt.21:11). Os fariseus foram impedidos de prendê-lo por causa da aclamação de profeta que recebeu das multidões (Mt.21:46).
A despeito de toda essa aclamação, Jesus não enfatizava seu papel profético nem o faziam os seus discípulos. Não houve um caso onde eles endossassem o que foi dito. As atribuições do povo nunca foram usadas por eles e a razão disto pode ser encontrada na natureza da expectativa escatológica dos judeus que esperavam um profeta no tempo do fim e que o mesmo fosse um sinal do reino de Deus que estava para vir, que fosse uma voz expressando a palavra do reino e que levasse o propósito de Deus a cumprir-se. Entretanto, aclamar Jesus como tal seria perder sua transcendência e majestade; seria diminuir o seu papel. Por esta razão, embora saudasse Jesus como “o profeta” , ele próprio aplicou este título categoricamente a João Batista. João era  o mensageiro enviado por Deus para preparar o caminho do Senhor (Mt.11:10, citado de Ml.3:1); João era o Elias que havia de vir.
MAIOR QUE JOÃO
Jesus enfatizou que João Batista era o maior de todos os homens antes dele, mas o menor no reino dos céus é maior do que ele  (Mt.11:11)!  João era mais que um profeta, porém o ministério profético que existe em Jesus transcende o de João, assim como João transcendeu a todos os que foram antes dele. Jesus trouxe o reino de Deus aos homens e o ministério profético que faz parte da expressão deste reino é maior do que todos os seus antecessores. Essa grandeza transcendente está enraizada na pessoa e transcendência de Jesus e não na superioridade pessoal do profeta individual. O indivíduo pode não ser maior que Elias, mas o papel, função e expressão o serão, pois que emanam do trono do Cristo de Deus (Ef.4:10-11).
Em Atos 3 e 7 as palavras de Moisés registradas em Deuteronômio 18:18-19 são aplicadas a Jesus, mas a referência original sem dúvida era a Josué, como o sucessor de Moisés. A significância da passagem é o estabelecimento do princípio de sucessão profética, pois foi através da imposição das mãos de Moisés que Josué foi comissionado (Dt.4:39). É claro que essa sucessão não é mecânica, mas torna-se inválida se o próprio sucessor não ouve e corresponde ao Deus vivo (Dt.18:19-22). O próprio Josué ouvia de Deus e recebia sua direção (e a direção para o povo) diretamente dele (Js.1:1ss). Então por que a aplicação a Jesus? Sem dúvida porque ele é o foco de tudo; a encarnação de tudo que Deus designou para o ministério profético e para ser transmitido por sucessão profética é aplicada a Jesus, pois pode-se ver a realização deste princípio nele. Ele transcende a Josué, levando um novo Israel a uma nova terra, numa nova glória, com um novo destino.
MAIOR QUE MOISÉS
O fato de Jesus não depender de Moisés ou de qualquer outro profeta anterior, e de ser incomparavelmente superior a todos eles, é demonstrado no relato da transfiguração. Aqui os dois maiores profetas do Velho Testamento são totalmente ofuscados por ele, e a Palavra de Deus é: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo: a ele ouvi” (Mt.17:5). Mais do que qualquer pessoa antes dele, aqui está alguém que precisa ser ouvido. Rejeitá-lo é estar fora do povo de Deus (At.3:23).
Não podemos, portanto, limitar Jesus à expectativa profética dos judeus. Ressoava nos ouvidos deles a profecia de Malaquias, de alguém que viria preparar o caminho do Senhor. Ao dizer que este era o papel de João, Jesus declarava implicitamente que ele era o Senhor, Iavé, cujo caminho fora preparado. Ao dizer que João era mais que um profeta, Jesus se declarava como muito mais que um profeta. Ele transcendia o ministério profético conforme até então fora conhecido.
ELE É O VERBO
Jesus é “o verbo” (Jo.1:1), não “o profeta”! Ele não somente profere a palavra, ele é a palavra! Ele inaugura a era de encarnação profética. Muitos profetas e homens justos ansiaram por esses dias, pela substância e manifestação daquilo que sentiam tão fortemente nos seus espíritos. Mas Jesus não anseia por isso; ele o encarna. Estando entre os homens, Ele disse: “O reino de Deus está entre vós”. Ele é o rei e não um proclamador de esperança ou de predições, mas é ele próprio a concretização expressa por toda verdadeira profecia, e para a qual toda profecia aponta. Daí as Escrituras: “Todos os profetas... profetizaram até João” (Mt.11:13); “Começando por... todos os profetas, (Jesus) expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc.24:27, 44).
CRIANDO UM NOVO ISRAEL
Jesus inaugurou um novo Israel e um novo ministério profético. O povo e os profetas não mais simplesmente predizem alguma coisa, mas são encarnação e expressão do reino de Deus. Desta forma, profecia neo-testamentária é muito mais positiva na sua ênfase geral do que o seu paralelo no Velho Testamento, que raramente falava de paz (exceto num contexto de predição futura), mas mais freqüentemente falava de juízo (Jr.28:8ss). Um povo e um ministério que receberam a glória de Deus (Jo.17:22), que receberam sua comissão do trono do Cristo ressuscitado (Ef.4:10-11), fala com uma nova nota de autoridade, alicerçada em realização e realidade. Antes de Jesus, todos os profetas diziam: “Isto é o que o Senhor diz...” mas Jesus afirma: “Mas eu vos digo... Ouviste que Moisés disse... mas eu digo...”  Agora falamos no nome e na realidade espiritual daquele que assim disse. É interessante que Elias, que se estendeu na sua confiança para declarar que eventos ocorreriam “segundo a minha  palavra” , é um dos homens registrados no Velho Testamento como arrebatados por Deus, sem provar a morte, e é claramente reconhecido ao lado de Moisés como o maior dos profetas do Velho Testamento.
Uma passagem crucial a toda esta questão do papel de Jesus e do conceito de si mesmo que ele desejava nutrir entre os seus discípulos, está em Mateus 16. A própria familiaridade dessa passagem facilita-nos perder algo de importante nas percepções anteriores que podem cegar os olhos para a revelação presente, ou até para ver o que é óbvio: Jesus interroga seus discípulos sobre as opiniões populares a seu respeito (v.13). A resposta deles abrange a extensão da expectativa dos judeus, na qual Jesus é tido como sendo Elias ou  Jeremias ou um dos profetas (v.14). Em seguida perguntou o que eles, que estavam mais perto dele, diziam a seu respeito. Falando do seu coração, Pedro explodiu: “Tu és o Cristo, Filho do Deus vivo !” (vv.15,16). Jesus reconheceu isto como revelação de Deus e um alicerce sobre o qual podia edificar sua igreja(vv.17-19).
O povo judeu esperava um profeta escatológico, mas a confissão de Pedro é algo muito maior que poderia fazer sobre qualquer profeta. O reino é edificado neste conhecimento de Jesus como o Cristo, o Filho de Deus. Seu ministério profético parte de um novo lugar de revelação, realidade e glória.
Assim, enfatizar Jesus como profeta pode obscurecer sua verdadeira identidade. Foi precisamente porque o elemento judaico na igreja primitiva nunca ultrapassou a expectativa dos judeus, e continuava a aplicar essa expectativa a Jesus, que isto se tornou um obstáculo para o progresso do reino. De fato, de acordo com algumas pesquisas modernas, os judaizantes legalistas combatidos por Paulo desenvolveram-se num corpo que negava de tal forma a superioridade transcendental de Jesus, que sua ênfase no “profeta” deu origem ao islamismo! Imagine - o maometanismo pode ter suas raízes numa cristologia desviada!
E UM NOVO MINISTÉRIO PROFÉTICO
O fato de Jesus encarnar algo novo está claro; e também que ele inaugurou um novo ministério. Ele é o Israel de Deus retirado do Egito (Mt.2:15), que então amplia de si mesmo um novo Israel. Ele escolheu um novo grupo de doze para encabeçar uma nova nação, que estabeleceu após sua ressurreição e derramou a grande promessa a Israel o dom do Espírito sobre ela. Do seu  trono, ele continua a agir e a falar em e através deste novo povo. Ele é quem concede profetas, homens e mulheres de visão e revelação; homens e mulheres de encarnação e realização, enviados para uma nova situação, no meio de um novo povo, com uma nova autoridade. Estes são enviados para mudar e transformar vidas e comunidades, regiões e nações, para tornar visível e reconhecido o trono de Cristo através da terra.
Profetizarão a respeito das intenções de Deus para o futuro, no meio de um contexto de declaração constante daquilo que é real nele agora. Em fé, declararão: “A hora vem...”, e em fé maior ainda acrescentarão: “...e agora é”! Trarão assim o invisível para a visibilidade, os céus para a terra. Declararão que o Senhor já veio, e que todo o seu reino e glória devem se tornar manifestos entre os homens.
O alcance da nossa expectativa deve ser mais alto do que qualquer geração anterior. Recebamos de toda maneira possível o encorajamento e estímulo do exemplo dos grandes profetas bíblicos. Somos seus descendentes e herdeiros legítimos. Mas devemos nos aventurar para entrar em novas áreas, reconhecendo que embora nos sintamos fracos, Deus deseja realizar mais em e através de nós do que jamais foi visto anteriormente.
John Maclauchlan

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