Um profeta é inevitavelmente uma figura que ameaça a situação atual. O institucionalismo pode produzir seus profetas, mas estes serão homens de sua própria espécie, falando somente o que o sistema quer ouvir e dando uma aparência divina ao que é essencialmente estéril ou perverso. Em contraste, homens enviados por Deus permanecerão fora deste contexto e suas palavras não apoiarão, mas desafiarão os conceitos formados e os rituais estabelecidos.
Jeremias
entrou em controvérsia com os profetas institucionalizados que falavam ao povo
o que este queria ouvir: que não seriam conquistados pela Babilônia. Estes
homens sustentavam a ordem existente e apoiavam o que Deus havia rejeitado.
Viam somente o reino material e profetizavam em correspondência a homens, não a
Deus. Preocupados com o reconhecimento e sua posição, prostituíam o seu
potencial de autoridade em favor de benefícios próprios. Enquanto isso,
Jeremias declarava a palavra de julgamento de Deus, à custa de sacrifício
pessoal.
O propósito
da profecia não é agradar os ouvidos dos homens. Ela é a auto-expressão de
Deus: declara sua vontade e desejos; dá sua avaliação da situação. Ao fazer
isto, a profecia é diametralmente contrária a expressão da vontade e desejos do
homem, pois estes entram em choque com a vontade e desejos de Deus. Portanto,
muitas vezes o profeta de Deus terá que denunciar os profetas dos homens.
Miquéiais fez isso, ao declarar que os falsos profetas faziam errar o povo de
Deus, não tinham nada dele e estavam na verdade em guerra contra o Senhor
(Mq.3:5-12)!
DEPENDÊNCIA DE DEUS
O
próprio profeta encarna o princípio de que o homem está designado para viver e
funcionar na dependência de Deus. Desta forma, sua vida e suas palavras irão
contra qualquer tipo ou forma de independência, quer seja por desejo e ambição;
por pensamentos e conceitos; de propósito e alvo. Devem dar lugar ao
reconhecimento da supremacia e da glória de Deus, submetendo-se a Ele de todo o
coração e vontade. Somente desta maneira o homem pode achar segurança e
realização.
Há,
portanto, muita coisa para a qual o profeta é enviado a destruir. Arrancar e
derrubar, destruir e demolir, precedem o construir e o planejar (Jr.1:10). O
coração do profeta é criativo, não destrutivo, pois reflete o coração do seu
Deus. Mas o mal deve ser destruído para que o bem possa florescer; e o chão
deve ser limpo dos entulhos para que um novo edifício possa crescer no lugar,
com firmeza.
Séculos
de conceitos e idéias falsas têm paralisado a Cristandade ao ponto de total inatividade
ou a têm desviado para atividades erradas. Séculos de estruturas religiosas
humanas têm levado o espírito do homem a tal servidão, que ele está dentro de
uma masmorra de formas e rituais sem nenhum conhecimento verdadeiro do Deus
vivo. O profeta permanece em oposição frontal a toda essa escravidão e declara
liberdade aos homens.
Facilmente
aqueles que querem servir a Deus aceitam conceitos e idéias tradicionais! Quão
facilmente o inimigo tem conseguido semear conceitos falsos no solo fértil
desta receptividade! Seja onde for que o homem confie em alguma outra coisa
além de Deus, para sua segurança, há perigo. Quando ele confia num credo ou
sistema tradicional ao invés de confiar naquilo que Deus está falando às
igrejas, ele está exposto ao engano. Também não é seguro abraçar o
evangelicalismo como a ala da igreja que se recusou a ser escravizada pela
tradição; embora tenha rejeitado as formas exteriores e os rituais religiosos
do catolicismo, substituiu-os por um sistema de ortodoxia e prática religiosa
igualmente escravizadores. São aquelas mesmas idéias gnósticas que começaram a
envenenar a corrente sangüínea da igreja nos seus primeiros dias e que estão
encontrando uma pronta aceitação no meio evangélico hoje.
DESTRUINDO FALSOS CONCEITOS
O
profeta se oporá a todas essas idéias falsas, pois seu desejo é uma igreja sã e
unida, livre de interesses sectaristas. Ele atacará a consciência pecaminosa e
impotente daquilo que hoje leva o nome de Cristandade, tão vigorosamente quanto
seus colegas no passado atacavam as religiões falsas que contaminavam a vida
espiritual de Israel. A mentira escraviza ao passo que a verdade liberta.
Ouvindo a verdade, o povo de Deus é despertado para ver a prisão em que se
encontra, ao mesmo tempo em que vê a porta de escape que permanece aberta. Os
profetas de hoje, como nos dias de Moisés, conduzem o povo para fora desta
escravidão, destruindo todos os obstáculos em nome do Senhor e trazendo
julgamento àquilo que tem escravizado o povo de Deus.
A
tendência do ser humano é organizar e solidificar tudo o que ele toca. Sua
insegurança exige que ele tente estabelecer firmes pontos de referência para si
mesmo. Por isso ele constrói instituições que outrora eram uma expressão
flexível de vida. O Deus que declara que “é o que é” recusa-se a ser preso ou
limitado. Uma igreja que está designada a encarnar e expressar Deus não pode
ficar presa a uma forma ou padrão fixos.
De
fato, se Deus “é o que é” devemos dizer da igreja que ela também “é o que é”.
Por perceber que o propósito e atividade de Deus são de suprema importância, o
profeta se oporá ao institucionalismo estático que o homem erigiu para
substituir a dependência viva em Deus e trabalhará pela visão do corpo.
A
experiência do profeta é de um caminhar contínuo com Deus, uma experiência viva
com ele. Sua vida e palavras convidam e inspiram o povo de Deus a uma
experiência semelhante. Não lhes é permitido continuar na estrutura confortável
e segura do formalismo, previsível em todo o seu curso. Antes, devem ser
chamados para sair desta segurança aparente a fim de seguir o Deus que está
falando, muitas vezes sem saber para onde vão. Foi tal obediência de fé que
justificou Abraão. É tal fé que ainda agradará a Deus hoje. O propósito da
igreja é ser auto-expressão de Deus e ela deve mover-se para onde quer que ele
a dirija, seguindo-o para onde quer que ele vá. O profeta vive desta maneira e
comunica isto à igreja.
Assim
como ele ataca e destrói idéias erradas acerca do relacionamento com Deus, da justiça, da natureza e do propósito
da igreja, o profeta buscará da mesma forma minar e substituir concepções
errôneas de profecia e escatologia. Por não ter uma experiência viva com a voz
de Deus, a igreja se tornou a base reprodutora de uma superabundância de idéias
humanas e demoníacas. Muitas dessas idéias efetivamente minam o propósito de
Deus e relegam seu procedimento com o homem à categoria de uma seqüência rígida
de acontecimentos futuros.
Porém,
Deus é vivo e real! Está ativo e responsivo aos acontecimentos! Ele não é uma
máquina e nem um computador programado de um curso preestabelecido e fixo.
Portanto, ao destruir falsas idéias escatológicas, o profeta libertará o povo
de Deus de vários becos sem saída, ao mesmo tempo em que o levará ao
indispensável conhecimento do Deus vivo e à experiência viva com ele.
Temos
falado muito do efeito destrutivo do ministério do profeta sobre tudo o que
assume o lugar de Deus ou se lhe opõe. Temos também procurado expressar porque
ele tem este papel, além de alguns dos resultados positivos que ele espera, ao
assentar um bom fundamento e construir sobre o mesmo num local bem preparado,
mas devemos também ter cautela contra a aspereza humana no papel destrutivo do
profeta. Alguns têm usado o disfarce de profeta para justificar as expressões
de amargura e ressentimento humanos, de vingança e provocação.
EXPRESSANDO A VONTADE DE DEUS
Não importa neste
caso se o que eles atacam é realmente contrário ao coração e vontade de
Deus. Nunca é demais enfatizar o fato essencial de que o profeta é um
meio para expressar a Palavra de Deus, e
somente ela. Jesus exemplificou a voz destrutiva de Deus um muitas
ocasiões, mas nunca com algum motivo de interesse humano. Sempre falava a
Palavra de Deus, e somente ela, e muitas vezes expressava-se com tristeza por
causa daqueles de quem ele falava.
Neste
assunto todo, um princípio que o autor deste estudo aprendeu de Deus há uns
treze anos, e que desde então tem procurado praticar, é corresponder ao
Espírito de Deus ao atacar e minar idéias e conceitos falsos que mantém a igreja
em escravidão, mas normalmente abster-se de atacar as pessoas que propõem tais
idéias. Estas permanecem ou caem diante de seus próprios ensinos.
Tem-se
falado que Moisés entendeu os caminhos de Deus, enquanto que Israel como um
todo somente viu os atos de Deus. É parte principal da consciência profética
apreciar não somente o que Deus está fazendo, mas entender porque ele está
fazendo aquilo, e ter um senso de estratégia.
O
profeta sempre dirigirá a atenção para a raiz do problema, removendo os
entulhos e esforçando-se para estabelecer uma raiz através da qual possa
desenvolver-se aquilo que Deus tenciona realizar. Nisto ele é realmente
radical, pois um radical é aquele que vai à raiz do problema para atingi-lo.
Inevitavelmente neste ponto ele entra em conflito com as instituições
religiosas que por séculos têm acumulado tradições e perdido de vista as raízes
das quais a Cristandade surgiu.
Mas não
é somente renovando os conceitos da igreja que o profeta estará ativo. Ele
também expressará a vontade de Deus para o seu povo em qualquer ponto
determinado de sua história. Ele trará direção, dando a perspectiva de Deus e
exortando a igreja para corresponder às circunstâncias e acontecimentos como o
seu Senhor deseja. Ele explicará o significado da situação atual e delineará os
passos imediatos e necessários para, a partir daí, adentrar mais na vontade de
Deus e expressá-la. Esta expressão da vontade e palavra atuais de Deus será
colocada no contexto de uma declaração contínua do seu propósito geral. O
profeta esclarece a profecia e a escatologia ao povo de Deus pois não está
interessado em sistemas e interpretações literalistas, baseados em lógica e
dedução humanas. Ele vê na profecia a revelação do coração do Pai (sua vontade
e desejo) e de seus princípios (a base pela qual ele ordena e age). Estas
coisas o profeta vê por revelação e as expõe ao povo de Deus.
É
necessário que haja um profeta para interpretar um profeta, pois nenhuma
profecia bíblica pode ter interpretação particular. Assim como as profecias
registradas não se originaram da vontade humana mas sim da inspiração do
Espírito, através de homens específicos, assim também hoje a interpretação
destas profecias depende de um dom: o ministério profético (2 Pe.1:20-21).
Assim como as declarações dos profetas devem ser julgadas por outros profetas
(1 Co.14:29) as palavras dos profetas devem ser interpretadas por outros
profetas.
DANDO UMA VISÃO DE DEUS
Neste
contexto uma nova escatologia emerge. Não um sistema, nem uma estrutura
minuciosa do alvo e desígnio de Deus que atrai seu povo à consumação destes
propósitos. Como escatologia bíblica, muitas vezes ela será em visão parábola,
muitas vezes “codificada”, mas sempre inspirando visão e coragem. É uma
escatologia viva, não acadêmica. É espiritual e não literal. É substancial
por ter a realidade de Deus, não rígida
como a assim chamada ortodoxa nem restrita pelas limitações da lógica humana. É
uma visão de Deus.
Tal
escatologia é imediatamente incompatível com qualquer sistema formal e
estático. Inevitavelmente torna-se uma ameaça aos fornecedores de pacotes
proféticos bem elaborados cuja segurança depende da predição de um curso
estabelecido de acontecimentos futuros. No entanto, esta escatologia participa
da essência do que é verdadeiramente profético: comunica Deus, não planos e
acontecimentos. Enfatiza a realização de seu propósito, a manifestação do seu
reino e dá espaço para aquele que “é o que é” desenvolvê-lo como achar melhor.
Portanto, o profeta liberta os homens da dependência de auxílios e apoios exteriores
e os amarra em Deus. Ao fazer isto, sua natureza essencialmente radical é mais
plenamente expressada, pois nisto se acha a raiz da sua existência.
O homem
se tornou independente e Deus o chama de volta à rendição e à dependência. Ele
o chama através de seus profetas, equipando-os para fazer emaranhados de
indiferença e engano. Ele toca seus corações e os inspira com a visão de si
mesmo e de sua glória, mostrando-lhes
sua vontade e propósito.
John Maclauchlan
Glória a Deus irmão por essa obra marvilhosa e por ter postado aqui, estava lendo na casa de um irmão e não deu tempo de terminar lá, mas meu espírito ardia para terminar e consegui temrinar de ler aqui, gloria a Deus, Deus abençoe!!!
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